Vaziedade versus Vacuidade
No budismo, o termo vaziedade traduz o sânscrito śūnyatā (tibetano: stong pa nyid, inglês: emptiness). Trata-se de um dos conceitos filosóficos mais profundos, que significa a ausência de existência intrínseca (svabhāva) em todos os fenômenos. O sufixo tibetano -nyid e o sânscrito -tā indicam qualidade ou estado, de modo que o sentido exato é “a qualidade de ser vazio”. Se fosse perguntado “vazio de quê?”, a resposta é inequívoca: vazio de existência intrínseca. Assim, vaziedade expressa com precisão a formulação clássica do budismo indo-tibetano.
Em português, muitos autores usaram historicamente a palavra “vacuidade”, derivada de “vácuo”. Contudo, esse termo induz a equívocos — pode sugerir um “nada” físico, substancial ou material, algo inerte e morto — e não reflete a terminologia filosófica budista. A palavra vaziedade, ao contrário, mantém a fidelidade ao tibetano stong pa nyid e ao sânscrito śūnyatā, ambos indicando uma qualidade ontológica — isto é, uma característica fundamental do modo de existir dos fenômenos, a ausência de existência intrínseca — e não um vazio substancial ou material.
Para evitar confusões, é importante distinguir vaziedade (stong pa nyid, śūnyatā) de vácuo (stong sangs), termo tibetano usado no sentido físico ou espacial, correspondente ao vazio material ou ausência de substância (em sânscrito: śūnya-ākāśa, “espaço vazio”).
Chave da distinção: Vaziedade versus Vacuidade
- Vacuidade / vácuo / stong sangs → remete a algo inerte, morto, sem vida. Um nada frio, físico, material ou substancial.
- Vaziedade / śūnyatā / stong pa nyid → é justamente o oposto: um vazio pleno, vivo, dinâmico, que permite o surgimento e a interdependência de todos os fenômenos.
👉 Ou seja: “vacuidade” induz a pensar num buraco, vácuo, sem nada; “vaziedade” expressa a plenitude de não haver substância fixa.
Nota linguística:
Vaziedade é um nome abstrato formado pelo sufixo -dade a partir do adjetivo vazio. Segue a regra de formação RFP-ESSIV (Regra de Formação de Palavras – sufixo -eza / -ez / -idade), e se classifica entre os nomes abstratos não dicionarizados, mas morfologicamente corretos. Apesar de não constar nos dicionários tradicionais, o termo é plenamente legítimo morfologicamente, sendo apenas não dicionarizado ainda, porém muito usado no mundo acadêmico. Veja https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/15191/1/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20mestrado_D%c3%a1lia%20Jesus.pdf
https://seer.ufrgs.br/index.php/debatesdoner/article/download/114289/65728/499901
https://bdm.unb.br/bitstream/10483/9816/1/2014_AnaAraujoVazquez.pdf
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## O conceito budista de vaziedade
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## Por que “vacuidade” induz a erro
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## A legitimidade linguística de vaziedade
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