OS TRÊS GIROS DA RODA DO DHARMA
Por Geshema Kelsang Wangmo, PHD
Instituto Budhista de Dialética – Mcleogang, Índia
Buddha Shakyamuni ensinou extensivamente. Desde a época da iluminação de Buddha Shakyamuni em Bodhgaya até sua morte em Kushinagar, ele passou os 45 anos restantes de sua vida viajando pelo subcontinente indiano, girando a Roda do Dharma, ou seja, explicando e ensinando extensivamente o que ele havia compreendido profundamente. Sendo um pedagogo extremamente hábil, ele abordava as necessidades de seus ouvintes ensinando-os de acordo com suas predisposições mentais, interesses, inclinações, níveis de compreensão e assim por diante. Algumas vezes, Buddha deliberadamente articulou pontos de vista que contradiziam diretamente as opiniões que ele havia expressado anteriormente, ou seja, em outros ensinos, porque eram mais benéficos para seu público daquele momento. E embora esse ponto de vista particular pudesse não refletir o ponto de vista do próprio Buddha, o que ele estava ensinando naquele exato momento ainda, mesmo contradizendo o seu ponto de vista, ainda serviria como uma plataforma eficaz, para preparar aquele público para que, em um momento posterior, pudesse ser-lhes ensinado os pontos de vista “superiores” da filosofia.
Diz-se que o Buddha deu 84.000 discursos diferentes. Entre as diferentes formas pelas quais esses ensinamentos são classificados, uma das mais comuns é a classificação em Três Giros da Roda do Dharma. De acordo com a obra de Lama Tsongkhapa “A Essência da Elucidação Eloquente [dos significados interpretáveis e definitivos] (Drang-nges legs-bshad snyingpo)” a convenção das três rodas foi uma tentativa de categorizar o conteúdo e as visões filosóficas da grande variedade de ensinamentos budistas.
Há diferentes maneiras de classificar os discursos nas três rodas. Uma é do ponto de vista de tempo. O tempo desde a iluminação de Buddha até sua morte pode ser dividido em três períodos:
- Os ensinamentos que Buddha deu durante o período inicial enquadram-se na categoria da primeira roda;
- Os ensinamentos que ele deu durante o período intermediário enquadram-se na categoria da segunda roda; e
- Os ensinamentos que ele deu durante o período posterior enquadram-se na categoria da terceira roda.
Do ponto de vista do tempo, os três giros da roda do Dharma são:
Primeiro Giro
O discurso que diz respeito ao primeiro giro da roda é o Sutra sobre as Quatro Nobres Verdades (Skt. Catvari Aryasatyani Sutra, Tib. ‘phags pa’i bden pa bzhi’i mdo) que o Buddha deu aos seus primeiros cinco discípulos, pouco depois de ter alcançado a Iluminação Suprema, no Parque dos Cervos em Sarnath, Varanasi. Neste sutra, o Buddha estabeleceu a estrutura para todos os [futuros] ensinamentos budistas, ou seja, as Quatro Nobres Verdades.
Outro discurso deste primeiro giro é o ensinamento no qual Buddha explica aos seus cinco primeiros discípulos que a parte inferior das vestes monásticas (Tib. sham thabs) deve ser usada de forma circular [enrolada no corpo]. Este discurso é dos Preceitos Menores [do Vinaya] (Tib. lung phran tshegs), que é um dos Quatro Textos sobre o Vinaya (Tib. ‘dul ba lung sde bzhi) ensinados por Buddha.
Segundo Giro
Exemplos de discursos que dizem respeito à segunda roda são os Sutras da Perfeição da Sabedoria, sobre a ausência de características, e foram realizados na montanha do Pico do Abutre, perto de Rajgir. Nesses sutras, Buddha deu ensinamentos ainda mais elaborados particularmente sobre a terceira e quarta nobres verdades (a verdade da cessação e a verdade do caminho). A quarta verdade, a verdade do caminho, constitui os três treinamentos (moralidade, concentração e sabedoria transcendente), dentre os quais a sabedoria transcendente é o principal treinamento. Portanto, nos discursos referentes ao segundo giro da roda, Buddha forneceu explicações sobre a sabedoria transcendente, em particular, expondo extensivamente sobre o objeto principal dessa sabedoria, a vaziedade. Curiosamente, também nesses Sutras da Perfeição da Sabedoria Transcendente, Buddha apresentou principalmente a Natureza Búdica Objetiva, também chamada de luz “clara objetiva” – a verdade última da vaziedade– referindo-se a natureza vazia da mente.
Terceiro Giro
O terceiro giro da roda sobre o deslindar completo ocorreu em Vaishali e incluiu os sutras que explicam as três naturezas [dos fenômenos][1] entre outros.
Exemplos de ensinamentos pertencentes ao terceiro giro da roda são: o Sutra sobre a Essência do Tathagata (Skt. Tathagathagarbha Sutra, Tib. de bzhin gshegs pa’i snying po’i mdo) e o Vinaya Condensado (Tib: ‘dul ba mdor bsdus).
Nesse Sutra da Essência do Tathagata, Buddha ensinou adicionalmente sobre a “natureza búdica subjetiva”, também referida como a “luz clara subjetiva”, ou seja, a natureza clara da mente. Este sutra é, portanto, considerado como uma ponte entre os ensinamentos do sutra yana e tantrayana.
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Outra maneira de classificar os ensinamentos de Buddha em três giros da roda do dharma é do ponto de vista do ensino da ausência de entidade intrínseca.
Esta forma de classificar os ensinamentos é baseada no Sutra Desvendado o Pensamento (Skt. Samdhinirmocana sutra, Tib. dgongs pa nges par ‘grel ba’i mdo) e não inclui todos os discursos dados por Buddha. Por exemplo, não inclui o ensinamento no qual Buddha explica que a parte inferior das vestes monásticas deve ser usada de forma circular [enrolada no corpo], visto que estes ensinamentos não estabelecem a “ausência de entidade intrínseca.”
Os três giros da roda do Dharma, de acordo com o Sutra Desvendado o Pensamento, são:
Primeiro giro da roda
O primeiro giro da roda são os ensinamentos do Hinayana (tradição Pali -Theravada ou Veículo Fundamental) e inclui o primeiro discurso de Buddha, o Sutra sobre as Quatro Nobres Verdades.
Nesse Sutra sobre as Quatro Nobres Verdades, Buddha não apenas expõe as quatro nobres verdades, mas ele também ensina literalmente que os cinco agregados, os dezoito elementos (dhatu), as doze bases (ayatana), os trinta e sete fatores à iluminação e assim por diante, existem verdadeiramente. Entretanto, aqui é importante lembrar que os principais discípulos que atendiam os ensinamentos sobre o Sutra das Quatro Nobres Verdades eram praticantes Hinayana seguidores da escola Vaibashika (Escola da Grande Exposição), da escola Sautrantika (proponentes do Sutra) e Prasangika Madhyamika (Escola Caminho do Meio Consequencialista).
Nesse sutra, Buddha ensinou sobre uma verdadeira existência ou uma existência intrínseca somente aos praticantes de Hinayana que são defensores do Vaibashika e Sautrantika. Aos praticantes Hinayana que são seguidores da escola Prasangika Madhyamika (Escola Caminho do Meio Consequencialista) Buddha ensinou sobre a ausência da existência intrínseca ou a ausência da existência verdadeira.
O Sutras que ensinam sobre este primeiro giro da roda traduzidos em inglês são e você também pode fazer o Download do texto em PDF clicando no numero ao lado: [2]
Segundo giro da roda
A segunda roda constitui ensinamentos Mahayana (tradição de Nalanda baseado na escritura sânscrita) e se refere aos Sutras da Perfeição da Sabedoria. Eles ensinam explicitamente a verdade última, ou seja, a ausência de uma entidade intrínseca tanto do indivíduo quanto dos fenômenos (a visão do sistema da Madhyamaka), e implicitamente, os caminhos meditacionais que levam a completa iluminação.
Os Sutras que ensinam sobre este segundo giro da roda traduzidos em inglês são:[3]
Terceiro giro da roda
O terceiro giro da roda é também do ponto de vista do Mahayana e refere-se ao sétimo capítulo do Sutra Desvendando o Pensamento, chamado “Perguntas de Paramartha Samudgata” (Skt. Paramartha Samudgata Pariprccha, Tib. don dam yang dag ‘phags kyis zhus pa).
Nesse sétimo capítulo deste sutra, o Bodhisattva Paramartha Samudgata pergunta à Buddha o que ele tinha em mente quando, durante o primeiro giro da roda, ele disse que os cinco agregados, fenômenos e assim por diante, existem intrinsecamente, e já durante o segundo giro da roda, que estes não existem intrinsecamente, pois se essas duas afirmações forem assumidas literalmente, estas parecem ser contraditórias.
Visto que Buddha estava ciente de que os discípulos presentes quando Paramartha Samudgata lhe fez essa pergunta, eram recipientes adequados para os ensinamentos do sistema da escola Vaibhashika ou Chittamatra (Só Mente), ele respondeu explicando que os fenômenos podem ser divididos em duas categorias: aqueles que existem intrinsecamente e aqueles que não existem.
Com esta explicação o Buddha apresentou o sistema filosófico da escola Chittamatra, cujos proponentes afirmam que os fenômenos impermanentes e a vaziedade existem verdadeiramente ou intrinsecamente, enquanto os fenômenos permanentes, além da natureza da vaziedade, não existem.
Os Sutras que ensinam sobre este terceiro giro da roda traduzidos em inglês são:[4]
Isto conclui uma breve descrição das três rodas.
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A VISÃO NYINGMA DOS TRÊS GIROS DA RODA DO DHARMA
De acordo com a Escola Nyingma, o primeiro giro da roda é de significado provisório[5], enquanto o seguro e o terceiro giro da roda são ambos de significado definitivo[6].
Observação final
Dos Três Giros da Roda do Dharma, os ensinamentos do segundo giro, os Sutras da Perfeição da Sabedoria Transcendente, fazem parte das principais categorias de ensinamentos em que se baseia o estudo da filosofia budista de acordo com a tradição de Nalanda.
Os Sutras da Perfeição da Sabedoria Transcendente também são chamados de “Sutras da Mãe Sublime”.
Aqui, “Mãe Sublime” refere-se a Prajna-Paramita, o aspecto feminino Búdico que representa a sabedoria transcendente, ou seja, à própria sabedoria transcendente. A sabedoria é chamada de “Mãe Sublime” porque, como uma mãe, dá à luz os seus filhos, a sabedoria transcendente – a realização direta da vaziedade – dá origem a todos os seres Aryas (ou seja, aqueles que perceberam diretamente a natureza última dos fenômenos, a vaziedade).
Há diferentes Sutras de Perfeição da Sabedoria de vários tamanhos. Dezessete foram traduzidos para tibetano, sendo um deles o Sutra do Coração. Estes dezessete são coletivamente chamados de Seventeen Sutras Mãe e Filho e consistem em seis ‘Sutras Mãe’ e onze ‘Sutras Filho’.
Os Sutras da Perfeição da Sabedoria ensinam explicitamente a vaziedade e implicitamente, ou de forma oculta, os caminhos meditativos que levam ao “despertar supremo” ou iluminação.
Em seus Seis Compêndios de Raciocínio Lógico (Tib. dbu ma rigs tshogs drug), Nagarjuna expõe o significado explícito dos Sutras da Perfeição de Sabedoria. Maitreya em seu Ornamento da Realização Clara (Skt. Abhisamayaalamkara, Tib. mngon rtogs rgyan) – expõe sobre o significado implícito desses sutras. Aqui, o texto em que se baseia o estudo de Bodhicitta é o texto de Maitreya.
Como o budismo tibetano se baseia na tradição Nalanda, os estudantes da tradição budista tibetana confiam principalmente nos Sutras da Perfeição da Sabedoria.
Em geral, os diferentes tópicos da filosofia budista estudados e debatidos nas instituições monásticas tibetanas podem ser resumidos no que se chama os Cinco Volumes dos Grandes Textos (Tib.: gzhung chen bka’ pod lnga). Estes cobrem basicamente cinco diferentes tópicos ou temas de estudo:
– Prajnaparamita (Perfeição da Sabedoria Transcendente, Tib. shes rab kyi pha rol du phyin pa/phar phyin)
– Madhyamaka (Caminho do Meio; Tib. dbu ma)
– Pramana (Lógica/epistemologia; Tib. tshad ma)
– Abhidharma (Fenomenologia, Tib. mngon pa mdzod)
– Vinaya (Disciplina, Tib. ‘dul ba)
Os Sutras da Perfeição da Sabedoria Transcendente traduzidos em inglês são:[7]
Tradução e compilação dos sutras de Bia Bispo.
NOTAS:
[1] (Skt. parikalpita; Tib.ཀུན་བརྟགས་) Natureza imputada, implica que os fenômenos não possuem uma existência intrínseca; 2. (Skt. paratantra; Tib.གཞན་དབང་) Natureza dependente, isto mostra que os fenômenos não são autocriados; e 3. (Skt. pariniṣpanna; Tib. ཡོངས་གྲུབ) Intrinsicamente existente, isso mostra que os fenômenos não possuem uma existência verdadeiramente sólida, intrínseca ou independente
[2] – Sutra on the Close Placement of Mindfulness on the Sacred Dharmas (Skt. Saddharma smrtyupashthana sutra, Tib. dam pa’i chos dran pa nyer bzhag gi mdo)
– Hundreds of Karmic Deeds (Skt.Karmashataka Sutra, Tib. las brgya pa)
– Hundreds of Accounts of Realizations (Skt.nAvadanashataka Sutras, Tib. rtogs brjod brgya pa)
– Scriptural Texts of the Rules of Discipline (Skt. Vinayagama, Tib.’dul ba’i lung shes che ba).
– Sutra of the Wheel of Dharma
[3] – Descent into Lanka Sutra (Skt. Lankavatara Sutra, Tib. lang kar gshegs pa’i mdo),
– King of Concentration Sutra (Skt. Samadhiraja Sutra, Tib. ting nge ‘dzin rgyal po’i mdo),
– Sutra of the Ten Bhumis (Skt. Dashabhumika Sutra, Tib. mdo sde sa bcu pa),
– Sutra on the Essence of the Tathagata (Skt. Tathagathagarbha Sutra, Tib. de bzhin gshegs pa’i snying po’i mdo),
– Sutra Requested by the Arya Shrimala (Skt. Aryashrimala Pariprccha Sutra, Tib. ‘phags pa dpal ‘phreng gi mdo),
– Sutra of the Ornament for the Illumination of Primordial Wisdom (Skt. Jnanaloka Alamkara Sutra, Tib. Yeshes snang ba’i rgyan gyi mdo),
– Sutra of the Great Nirvana (Skt. Mahaparinirvana Sutra, Tib. mya ngan las ‘das pa chen po’i mdo),
– Sutra of the Question of Dharanishvararaja (Skt. Dharanishvararajapariprccha, Tib. gzungs kyi dbang phyug rgyal pos zhus pa)
– Sutra in One Hundred Thousand Lines (Shatasahasrika) – Kashmiri Dharmashri, Explanation of the Hundred Thousand.
– Sutra in Twenty-five Thousand Lines (Pañcavimshatisahasrika) O Sutra in Twenty-five Thousand Lines (Pañcavimshatisahasrika) Edward Conze, The Large Sutra on Perfect Wisdom,
– Sutra in Eighteen Thousand Lines (Ashtadashasahasrika) sherab kyi parol tu chinpa tri gye tongpa (tri gye) –
– Sutra in Ten Thousand Lines (Dashasahasrika) https://read.84000.co/translation/UT22084-031-002.html
– Sutra in Eight Thousand Lines (Ashtasahasrika)
– Verse Summary (Saṃchaya)
– Lotus Sutra Saddharma Pundarika
[4] – Avatamsaka Sutra https://read.84000.co/section/O1JC114941JC14666.html– and The Flower Ornament Scripture,
a Translation of the Avatamsaka Sutra
– Ratnakuta Sutra https://read.84000.co/section/O1JC114941JC14667.html and a Treasury of Mahayana Sutras.
– Lankavatara Sutra
– Tathagatagarbha Sutra
Ten sutras that teach the sugatagarbha (Tib.བདེ་གཤེགས་སྙིང་པོ་སྟོན་པའི་མདོ་བཅུ་, deshek nyingpo tönpé do chu, Wyl. bde gshegs snying po ston pa’i mdo bcu)
- Tathagatagarbha Sutra (Wyl. de bzhin gshegs pa’i snying po’i mdo), Toh 258
- Sutra Requested by Dharanishvararaja (Wyl. gzungs rgyal gyis zhus pa’i mdo)
- Angulimaliya Sutra (Wyl. sor mo’i phreng ba la phan gdags pa’i mdo), Toh 213
- Lion’s Roar of Shrimaladevi Sutra (Wyl. dpal phreng seng ge’i nga ros zhus pa’i mdo), Toh 92
- The Ornament of the Light of Awareness that Enters the Domain of All Buddhas Sutra (Wyl. ye shes snang ba rgyan gyi mdo), Toh 100
- Anunatvapurnatvanirdesha Sutra (Wyl. ‘phel ‘grib med par bstan pa’i mdo)
- Great Drum Sutra (Wyl. rnga bo che’i mdo), Toh 222
- The Dharani “Entering into Nonconceptuality” (Wyl. rnam par mi rtog pa la ‘jug pa’i gzungs), Toh 142
- Samdhinirmochana Sutra (Wyl. mdo sde dgongs ‘grel), Toh 106
- Lion’s Roar of Shrimaladevi Sutra
[5] Significado provisório (Skt. neyārtha; Pal. neyyyattha; Tib.དྲང་དོན་, drang dön, Wyl. drang don; lit. o significado que requer explicação. Os ensinamentos de significado provisório incluem os oito tipos de ensinamentos implícitos e indiretos. Mipham Rinpoche disse:
“Quando se trata do significado do que é ensinado,
Você deve conhecer o significado provisório e definitivo,
E não confie em nenhum significado provisório,
Mas somente sobre o significado que contém certa verdade.”
[6] Significado definitivo (Skt. nītārtha; Pali nītattha; Tib.ངེས་དོན་, nge dön, Wyl. nges don) – Distinguir o significado definitivo do significado provisório é uma maneira importante pela qual os comentadores budistas transmitem uma interpretação unificada dos diferentes ensinamentos em escrituras que às vezes têm significados literais contraditórios. O significado definitivo é o verdadeiro significado, e está em contraste com o que é simplesmente ensinado para um propósito provisório, como um meio temporário para entender a importação mais profunda da verdade última.
[7]– Perfect Wisdom Sutra – The Large Sutra – Conze, 1975
– Material for a Dictionary of The Prajnaparamita Literature – Conze, Edward (1973)
– Perfection of Wisdom in Ten Thousand Lines
– Prajnaparamita_8000 Lines
– The-Perfection of Wisdom in 8000 verses.