OS CINQUENTA E UM FATORES OU ESTADOS MENTAIS
སེམས་བྱུང་ལྔ་བཅུ་རྩ་གཅིག།
[Sâns. Ekapañcāśaccaitasika]Embora haja muitos estados mentais possíveis (sem jung), os ensinamentos superiores de Abhidharma falam de cinqüenta e um, que são tidos como particularmente importantes.
- Cinco fatores sempre presentes (Tib. སེམས་བྱུང་ཀུན་འགྲོ་)
- Intenção – pensamento motivado – (Sâns. cetanā, cintanā; Tib. སེམས་པ།)
- Sensação (Sâns. vedanā; Tib. ཚོར་པ།)
- Percepção discernidora (Sâns. samjca, samjna; འདུ་ཤེས།)
- Engajamento mental; atenção mental(Sâns. manasikara, manaskara; Tib.ཡིད་ལ་བྱེད་པ།)
- Contato sensorial ou mental (Sâns. sparsa; རེག་པ།) (contato entre o orgão sensorial e o objeto do sentido)
གཙོ་སེམས་ཀུན་བྱ་འཁོར་དུ་ནི།།འཕྲོ་ཕྱིར་ཀུན་འགྲོ་ཞེས་བྱའོ།
Visto que estes fatores ou eventos mentais acompanham todas as mentes principais e são sempre presentes, então são chamados de “onipresente.”
- Cinco fatores mentais com o objeto determinado (Tib. སེམས་བྱུང་ཡུལ་ངེས་བྱེད་ལྔ།)
- Aspiração (Sâns. chanda; Tib. འདུན་པ།)
- Apreciação, admiração (Sâns. adhimoksa; Tib. མོས་པ། [ para a tradução do compêndio de Asanga a tradução mais apropriada é Determinação, Resolução.]
- Presença mental (Sâns. smrti, smrta; Tib. དྲན་པ།)
- Concentração; estabilização meditativa (Sâns. samadhi; Tib. ཏིང་ངེ་འཛིན།)
- Sabedoria discernidora (Sâns. prajna, prajnana; Tib.ཤེས་རབ།)
- Onze fatores mentais virtuosos ou estados virtuosos (Tib. སེམས་བྱུང་བཅུ་གཅིག་ouསེམས་བྱུང་དགེ་བ།)
- Fé (Sâns. śraddhā; Tib. དད་པ།)
- Vergonha, (Sâns. hri; Tib.ངོ་ཚ་ཤེས་པ།)
- Decência, pudor (Sâns. apatrāpya; Tib. ཁྲེལ་ཡོད་པ།)
- Não cobiça (Sâns. alobha; Tib.འདོད་ཆགས་མེད་པ།)
- Não ódio (Ing. non-hatred; Sâns. adveṣa; Tib.ཞེ་སྡང་མེད་པ།)
O Abhidharma-samuccaya afirma: O que é o não ódio (Sâns. adveṣa; Tib.ཞེ་སྡང་མེད་པ།)? É a ausência da intenção de prejudicar os seres sencientes, de brigar com situações frustrantes e de infligir sofrimento àqueles que são a causa da frustração. Funciona como uma base para não se envolver com comportamentos prejudiciais.
- Não obscurantismo ou ausência de obscurantismo (Sâns. amoha; Tib. གཏི་མུག་མེད་པ།)
Não obscurantismo: (Sâns. amoha; Tib. གཏི་མུག་མེད་པ།; Ing. non-delusion) é um termo budista traduzido como “não obscurantismo”. É definido como estar sem obscurecimentos sobre o que é a verdade, devido ao discernimento. Sua função é fazer com que não se envolva em ações prejudiciais. O Abhidharma-samuccaya afirma:
O que é não obscurantismo?
É uma compreensão completa do conhecimento (prático) que vem da maturação, instruções, reflexões e compreensão e sua função é fornecer uma base para não se envolver em comportamentos perversos ou negativos.
Herbert Guenther afirma:
[O não obscurantismo] é uma consciência distintamente discernidora que contrapõe o estado ilusório mental que tem sua causa em uma dessas ignorâncias: ignorância co-emergente (Sâns. Tib. ལྷན་སྐྱེས་ཀྱི་མ་རིག་པ་) e ignorância imputada ou adquirida (Tib. ཀུན་བརྟགས་ཀྱི་མ་རིག་པ་).
Retirado da: https://en.wikipedia.org/wiki/Amoha
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Obscurantismo: (Sâns. moha; Tib. གཏི་མུག །)
Dentro da tradição mahayana, moha em Sâns. e em Tib. གཏི་མུག, é classificado como um dos três venenos, que são considerados como causas fundamentais dos sofrimentos.
Na tradição mahayana, o obscurantismo (moha) é considerado como uma subcategoria da ignorância (Sâns. avidyā em ; Tib. མ་རིག་པ་). Enquanto a ignorância (avidyā ) é definida como sendo a ignorância fundamental ou básica e o obscurantismo é definido como uma ignorância sobre a causa e efeito ou sobre a realidade [maneira última de existir dos fenômenos] que acompanha apenas estados de mente ou comportamento destrutivos. Às vezes, nas listas dos três venenos, o obscurantismo (moha) é descrito como ignorância (avidyā).
Note que nas explicações contemporâneas dos três venenos, é provável que os professores enfatizem a ignorância fundamental (avidyā ) como [parte dos 3 venenos], em vez de obscurantismo (moha).
Retirado da: https://en.wikipedia.org/wiki/Moha_(Buddhism)
- Perseverança; diligência, (Sâns. vīrya; Tib. བརྩོན་འགྲུས།)
- Plasticidade; adaptabilidade (Sâns. praśrabdhi; Tib. ཤིན་ཏུ་སྦྱང་བ།)
- Vigilância mental; atenção plena (Sâns. apramāda; Tib. བག་ཡོད་པ།)
- Equanimidade (Sâns. upekṣā; Tib.བཏང་སྙོམས།)
- Não violência (Sâns. avihiṃsā; Tib. རྣམ་པར་མི་འཚེ་བ།)
- As Seis Aflições Mentais Raízes ou Seis emoções prejudiciais raízes (Tib. རྩ་ཉོན་དྲུད།)
- Desejo exacerbado; cobiça;, desejo ávido; cupidez (Ing. Greed; covetousness; Sâns. Rāga (greed, sensual attachment); Tib. འདོད་ཆགས།).
Em Tibetano. “འདོད་ཆགས། ‘dod chags”. Esta é uma palavra composta de duas palavras: “འདོད་པ། ‘dod pa” (desire, wish, longing) desejo, querer, vontade; e da palavra “ཆགས་པ། chags pa” (craving, attachment, desire, lust) anseio, fixação ou apego, desejo, cobiça ou luxúria. Dependendo do contexto da tradução, essa palavra pode significar: desejo exacerbado, desejo ávido, desejo cobiçoso, cobiça, luxúria etc.
Na filosofia budista “desejo exacerbado” é um conceito de caráter aflitivo retratado como “veneno” e se refere a qualquer forma de “ganância, luxúria, desejo ávido ou mesmo “apego” pelas excitações e prazeres derivados dos objetos sensoriais” inclusive desejo sexual e desejo passional. Alguns estudiosos a retratam como “apego.”
[“Rāga” – desejo exacerbado ou cobiça é representado pelo pássaro ou galo – um dos três venenos- na obra de arte budista (roda da vida), (1. desejo exacerbado ou cobiça = “rāga”; འདོད་ཆགས།; 2. Ódio = “Dvesha”; ཞེ་སྡང་།; e 3. Obscurantismo = “Moha”; གཏི་མུག་).
De acordo com as explicações nos tratados filosóficos budistas indianos, em se tratando do termo “desejo exacerbado” (འདོད་ཆགས། ou rāga/rāgah;), a tradução “apego” não é muito acurada.
No Abhidharma-samuccaya lê-se:
O que é o desejo exacerbado (Sâns. rāga; Tib. འདོད་ཆགས།)?
É o desejo cobiçoso pelos três reinos da existência. Sua função consiste em engendrar sofrimento. Diz-se que o desejo exacerbado (Sâns. rāga; Tib. འདོད་ཆགས།) surge da identificação de uma “entidade intrínseca” autônoma como sendo separado de todo o resto. Esta falsa percepção ou compreensão errônea é referida como ignorância (Sâns. Avidya; Tib. མ་རིག་པ།). https://en.wikipedia.org/wiki/Raga_(Buddhism)
- Raiva (Ing. anger; Sâns. pratigha; Tib.ཁོང་ཁྲོ།)
O termo “Patigha” também em Pali, é definido pelas fontes Theravada como: raiva, ódio, repulsa, embate; animosidade; irritação; indignação.
Do livro Ciência e Filosofina nos Clássicos indianos- Vol 2
Este é um fator mental que, ao perceber qualquer um dos três objetos da raiva, surge como intolerância e hostilidade desejando causar-lhes dano.
No Abhidharma-samuccaya lê-se:
O que é raiva (Sâns. pratigha; Tib. ཁོང་ཁྲོ།)?
É a maldade em relação aos seres vivos, no que se refere ao sofrimento e em relação às coisas ligadas ao sofrimento. Sua função é produzir uma base para estados infelizes e má conduta.
Alexander Berzin explica:
A raiva (Sâns. pratigha; Tib. ཁོང་ཁྲོ།) tem como objetivo “outro ser limitado, o próprio sofrimento ou situações que impliquem sofrimento”. Isto envolve ser impaciente com os objetos da raiva e querer se livrar deles, por exemplo, atacando-os e prejudicando-os. Baseia-se em considerar o objeto (da raiva) como pouco atraente ou repugnante por sua própria natureza.
Berzin também identifica o “ódio” (Sâns. dvesha ou Tib. ཞེ་སྡང་), como uma subcategoria da “raiva” (Tib. ཁོང་ཁྲོ།) a qual é dirigida principalmente, embora não exclusivamente, aos seres limitados.Retirado da: https://en.wikipedia.org/wiki/Pratigha
- Orgulho (Sâns. māna; Tib. ང་རྒྱལ།)
- Ignorância (Sâns. avidyā; Tib. མ་རིག་པ།)
- Dúvida (Sâns. vicikitsā; Tib. ཐེ་ཚོམ།)
- Crença ou visão ‘errônea’ (Sâns. dṛṣṭi; Tib.ལྟ་བ།) refere-se à “crença ou visão errônea’” das coleções transitórias (perceber ou acreditar que os agregados são o “eu” ou uma entidade intrínseca do “eu”). Definição do 84.000: é um fator mental que condiciona a mente e determina como esta vê a “realidade ou a maneira de existir dos fenômenos.” Quando a crença ou “visão” é dividida em cinco crenças ou visões errôneas, há cinqüenta e cinco estados mentais no total [50 +5= 55].
- Vinte aflições mentais secundárias(Tib. ཉེ་ཉོན་ཉི་ཤུ།)
- Ira (Sâns. krodha; Tib. ཁྲོ་བ།)
OBS. Krodha (fator mental) não deve ser confundido com as divindades iradas. Ira (Tib. ཁྲོ་བ།) é um termo budista que é também traduzido como “fúria”, “cólera”, ou “enraivecido”. O termo é definido como um aumento da raiva (sânscrito: pratigha; Tib. ཁོང་ཁྲོ།) que faz com que a pessoa se prepare para prejudicar os outros.
De acordo com Herber Guenther, a diferença entre raiva (Tib. ཁོང་ཁྲོ།) e ira (Tib. ཁྲོ་བ།) é que a raiva é uma atitude vingativa ou hostil na mente, mas a ira é um aumento da raiva quando a chance de prejudicar está próxima e é um estado mental muito agitado que leva aos danos físicos reais.
Alexander Berzin explica:
A ira (Sâns. krodha; Tib. ཁྲོ་བ།) é parte do ódio (Sâns. Dvesha; Tib. ཞེ་སྡང་), e é a intenção severa de causar danos.
Note que, segundo Berzin, o ódio (Tib. ཞེ་སྡང་), é uma subcategoria da raiva (Tib. ཁོང་ཁྲོ།).Retirado da: https://en.wikipedia.org/wiki/Krodha_(Mental_factor)
- Rancor; ressentimento (Sâns. upanāha; Tib. འཁོན་དུ་འཛིན་པ།)
- Hipocrisia (Sâns. mrakśa; Tib.འཆབ་པ།)
- Despeito (Sâns. pradāśa; Tib. འཚིག་པ།)
- Inveja (Sâns. īrśya; Tib. ཕྲག་དོག་)
- Avareza (Sâns. mātsarya; Tib.སེར་སྣ་།)
- Fingimento; ilusionismo; enganação (Sâns. maya; Tib. སྒྱུ།)
OBS.:“māyā” como “fator mental budista” não deve ser confundido com “māyā”-ilusão. Neste contexto “māyā” é definido como fingir ou iludir [outros] mostrando ou alegando ter boas qualidades que não se tem.
No Abhidharma-samuccaya lê-se:
O que é o fingimento? É uma demonstração daquilo que não é uma qualidade real e está associada tanto ao desejo exacerbado ou cobiça (Sâns. rāga; Tib. འདོད་ཆགས།) quanto ao obscurantismo (Sâns. moha; Tib. གཏི་མུག་), devido ao desejo ganancioso excessivo pela riqueza e honra. Sua função é fornecer uma base para um estilo de vida perverso.
Alexander Berzin explica:
O fingimento ou ilusionismo (Sâns. māyā; Tib. སྒྱུ་) está nas categorias do desejo exacerbado ou cobiça (Sâns. rāga; Tib. འདོད་ཆགས།) e obscurantismo (Sâns. moha; Tib. གཏི་མུག). Devido ao desejo cobiçoso pelo nosso ganho material, pelas honrarias e pelo respeito e ainda sendo atiçado pelo desejo de enganar o outro, se finge pretendendo ter boas qualidades que não se tem.
Retirado da: https://en.wikipedia.org/wiki/Maya_(Buddhist_mental_factor)
- Desonestidade, (Sâns. śāṭhya; Tib.གཡོ།)
Neste contexto, desonestidade é definida como ocultar ou encobrir as próprias falhas devido ao desejo de obter coisas como honra e ganho material. No Abhidharma-samuccaya lê-se:
O que é desonestidade? Em seu desejo de ganhar riqueza e honra, a pessoa, desonestamente, faz com que a não-virtude pareça virtude etc. Este fator mental é associado tanto ao desejo exacerbado ou cobiça (Sâns. rāga; Tib. འདོད་ཆགས།) quanto ao obscurantismo (Sâns. moha; Tib. གཏི་མུག་). Isto constitui um obstáculo para a aquisição de bons conselheiros.
Alexander Berzin explica:
A desonestidade (Sâns. śāṭhya; Tib. གཡོ།) faz parte do desejo exacerbado ou cobiça (Sâns. rāga; Tib. འདོད་ཆགས།) e do obscurantismo (Sâns. moha; Tib. གཏི་མུག་). Devido o desejo eávido pelo ganho material e de ser respeitado, este fator mental é ativado [mentalmente] para esconder próprios erros e defeitos.
Retirado da: https://en.wikipedia.org/wiki/%C5%9A%C4%81%E1%B9%ADhya
- Arrogância; prepotência (Sâns. mada; Tib. རྒྱགས་པ།)
- Violência; crueldade (Sâns. vihiṃsā; Tib. རྣམ་པར་འཚེ་བ།)
- Desavergonhamento (Sâns. āhrīkya; Tib. ངོ་ཚ་མེད་པ།)
- Indecência; despudor; imodéstia (Sâns. anapatatrāpya; Tib. ཁྲེལ་མེད་པ།)
- Letargia (Sâns. styāna; Tib. རྨུག་པ།)
- Excitação (Sâns. auddhatya; Tib. རྒོད་པ།)
- Falta de fé (Sâns. āśraddhya; Tib. མ་དད་པ།)
- Preguiça (Sâns. kausīdya; Tib.ལེ་ལོ།)
- Desatenção; negligência (Sâns. pramāda; Tib. བག་མེད་པ།)
- Esquecimento (Sâns. muṣitasmṛtitā; Tib. བརྗེད་ངས།)
- Não introspecção; imprudência; (Sâns. asaṃprajanya; Tib. ཤེས་བཞིན་མིན་པ།)
- Distração (Sâns. vikṣepa; Tib. རྣམ་པར་གཡེང་བ།)
- Quatro variáveis (Tib. སེམས་བྱུང་གཞན་གྱུར་བཞི།)
- Sono (Sâns. middha; Tib. གཉིད།)
- Arrependimento (Sâns. kaukṛtya; Tib. འགྱོད་པ།)
- Investigação mental conceitual ou pensamento conceitual (Sâns. vitarka; Tib.རྟོག་པ།)
- Análise mental discernidora (processo de análise mental) (Sâns. vicāra; Tib. དཔྱོད་པ།)
Tradução de @BiaBispo 2021
do livro – tibetano e Inglês – Ciência e Filosofia nos Tratados Indianos Clássicos – Volume 2.